sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

ESSE CORPO


“Esse corpo fala,
Esse corpo chora,
Esse corpo ri,
Esse corpo se espanta,
Esse corpo se encanta,
Esse corpo busca,
Esse corpo briga,
Esse corpo abraça,
Esse corpo mata,
Esse corpo estica,
Esse corpo gira,
Esse corpo anima,
Esse corpo joga,
Esse corpo dança,
Esse corpo engana,
Esse corpo ama,
Esse corpo aprende,
Esse corpo sofre,
Esse corpo é pobre
de informação.
Esse corpo precisa de liberdade.
Esse corpo precisa viver seus
direitos.
Esse corpo precisa entender seus
deveres.
Esse corpo precisa de amor.
Esse corpo precisa que o professor
o ajude a descobrir:
- Como explicar o que sente
- Como enxergar as verdades,
e mudar a realidade.
- Como o jogo na quadra,
pode retratar sua fala,
e não deixar que se retraia.
- Como a dança, a ginástica,
além da técnica,


exprima, viva, e transcenda.
Professor,
Me ensine quando correr pra bola,
a também mudar a escola.
Enxergar mais além,
no ato de pular corda.
Me explique o “porquê” do toque,
do drible, do saltito.
Me explique a razão da corrida,
das diferentes vidas,
dos direitos desiguais.
Me ensine a levar a iniciativa do jogo
Pra vida, pra melhorar meu dia a dia.
Esse corpo joga, e quando joga, brinca, se relaciona, descobre.
Esse corpo dança, e quando dança,
se exprime, se alegra, se conhece mais.
Esse corpo salta, alonga, explora,
busca e alcança.
Esse corpo é vida, é terra, é ar,
é mata, é água.
Esse corpo nasce e morre.
Enquanto vive é bom compreender
que“ é ” tudo o que parece ser além de si”.

(BREGOLATO, Roseli Aparecida. Textos de Educação Física para Sala de Aula. Cascavel, Assoeste Editora Educativa, 1994).

A BOLA

O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.
O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse “Legal!”. Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.
- Como é que liga? – perguntou.
- Como, como é que liga? Não se liga.
- O garoto procurou dentro do papel de embrulho.
- Não tem manual de instrução?
O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros.
- Não precisa de manual de instrução.
- O que é que ela faz?
- Ela não faz nada. Você é que faz coisa com ela.
- O quê?
- Controla, chuta...
- Ah, então é uma bola.
- Claro que é uma bola.
- Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
- Você pensou que fosse o quê?
- Nada, não.
O garoto agradeceu, disse “Legal”de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova ao lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado Monster Ball, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de blip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se detruir mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina.
O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.
- Filho, olha.
O garoto disse “Legal” mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa idéia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar.

Veríssimo, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola; Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O UNIVERSO DA QUADRA




O mundo não é quadrado

Porque Galileu não quis.

São os loucos ideais

Que fazem o mundo feliz

Sei que tudo é permitido

Por Deus, o grande Juiz.



Se o mundo fosse uma quadra

Nele deveria ter

Uma trave e uma cesta,

Uma rede, pode crer!

Não para você dormir,

Mas pra ganhar e perder.



No ganha e perde da vida

Nós precisamos viver,

Ter casa para morar,

Educação e lazer,

Respeitar as diferenças,

Tolerar para conviver


O mundo não é quadrado

A quadra não é o Mundo

Deus fez o mundo redondo

Com o seu amor profundo

A quadra só deixa a gente

Feliz por alguns segundos.



Autor: Valentim Martins Quaresma Neto